O Brincar e a caixa Lúdica

  • Brinquedos e jogos: uma decisão baseada na qualidade
  • Roselene CrepaldiAngela
  • Renso Madeira
  • Marcia Alves Simões Dantas

Escrevemos esse artigo com o objetivo de proporcionaralgumas reflexões para auxiliar os profissionais da educação e em especial os da psicopedagogia, na decisão da aquisição de jogos e brinquedospara realização das intervenções psicopedagógicas.

Os profissionais da área da psicopedagogia já utilizam jogos e brincadeiras nas suas intervenções, fundamentadas em estudiosos pioneiros como Freud, Klein, Piaget, Vigotsky, Winnicott, e mais recentemente Bossa, Fernandes, Mantoan, Pain e Visca.(CREPALDI, 2018)Porém, nossa abordagem trata da importância de se pensar para além do uso baseado nas classificações propostas pelos teóricos, mas na aquisição consciente de objetos e materiais que obedeçam a requisitos técnicos com resistência e durabilidade para uso coletivo obedecendo a normas que lhes assegurem qualidade técnica.Os conceitos de educaçãoe saúdeforam ampliados, as concepções deidosocriança e infância evoluíram, as famílias e os educadores estão mais exigentes,todo esse desenvolvimento resulta numa legislação educacional mais abrangente, que estabeleceu dentro de sua Base Nacional Comum Curricular (2019) a brincadeira e as interações como eixo de trabalho para o sistema de educação.O brincar como ferramenta de intervenção psicopedagógica, transbordaas instituições de ensino e os consultórios para, inclusive,possibilitar a instalação de brinquedotecas e espaços de acolhimento emunidades de saúde que ofereçam atendimento pediátricoe geriátrico. Essa expansão também é observada para outros espaços como os dos clubes sociais e condomínios residenciais que podem aproveitar suas dependências de lazer para o desenvolvimento deatividades lúdico pedagógicas, que resultam nainclusão e socialização de pessoas –sujeitos aprendentes –e que podem resultar na criação de concepções psicopedagógicas inovadoras, com base na utilização de jogos e brinquedos que possuam atributos de facilidade na higienização, durabilidade, segurança,embalagem econômica e sustentável para seremutilizados.Futuro epresente se fundem e cabe a nós, psicopedagogos, implementar mudanças que atendam àsnecessidades desse sujeito aprendente, queé compreendidocomo alguém ativo, criativo, dinâmico, inteligente, capaz, sujeito de direitos, protagonista da sua história, seja criança ou idoso.O embasamento legal a ser considerado está naLei no10.741, de 1º de outubro de 2003instituio Estatuto do Idoso, e regula os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, e na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 institui o Estatuto da criança e adolescente, considerando crianças as pessoas até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.Os legisladores estabeleceram que em ambos os casos, essas pessoas, gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humanae nesse artigo serão denominados como -sujeitos aprendentes, quando na relação com os psicopedagogos.Isso quer dizer que, antes de evidenciar qualquer necessidade especial, síndrome ou deficiência, é preciso considerarcrianças, adolescentes ou idosos, como pessoas, com direito ao que existe de melhor, em todos os sentidos. É nosso dever realizar ações e intervenções considerando não só a quantidade de atividades e materiais, mas também sua qualidade, e ofereceratividades, objetos, materiais, brinquedos e jogosque traduzam esse conceito. Mantendo-nos sempre atualizados com os estudos mais avançados, os recursos tecnológicos disponíveis e ações integradas com outros profissionais que possam contribuir com nosso desenvolvimento pessoal, profissional e técnico.Vale ainda salientar que ao utilizarmos o termo qualidade, nos referimos não só aos aspectos físicos do objeto, ou seja,ao grau em quem um conjunto de características inerentes atende a diferentes requisitos, como determina aInternational Organization for Standardization, -ISO ou seja, Organização Internacional de Padronização,uma instituição que fornece indicadores que sebem implementados, garantem mais confiança de que a organização é capaz de fornecer regularmente produtos e serviços que atendam às necessidades e as expectativas deseus clientes, e que estão em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveise ainda a outro conceito importante: Qualidade de vida

Para a Organização Mundial da Saúde-OMS, “Qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.Isso quer dizer quea qualidade está relacionada com a percepção de quem está usufruindo do nosso trabalho, e não só com o que oferecemosao sujeito aprendente. Estudos recentes como os desenvolvidos por Stuart Brown da Play Core, demonstram que:Nada ilumina o cérebro tanto quanto brincar. Brincadeiras tridimensionais ativam o cerebelo, mandam vários impulsos para o lobo frontal —a parte executiva do cérebro —, ajudam o desenvolvimento da memória contextual, entre outros benefícios”,(2020).O jogo e sua relação com o desenvolvimento da inteligênciaAo logo da história, estudiosos inspiradores conseguirama partir do estudo do desenvolvimento da inteligência, analisar o jogo como uma atividade que se manifesta desde o nascimento do ser humana e evolui por toda sua vida.Freud, analisa o jogo a partir das suas possibilidades de elaboração do prazer e do desprazer. Acreditava que quando a criança jogava, ela deslocava para a ação suas angústias e medos, e até conseguia dominá-los, da mesma forma que poderia repetir quando quisesse situações desagradáveis que já tivesse vivido e tentar superá-las.Nesse sentido, o jogo apresenta-se como uma ponte entre a fantasia e a realidade, em que a criança pode utilizar-se de materiais e brinquedos em que ela pode projetar-se e elaborar relações com tais objetos, descarregando sentimentos e aprendendo a lidar com eles.O adulto pode expressar suas angustias com as palavras, mas acriança as expressa quando brinca, como num simples jogo de esconder, em que ela nos gestos repetidos consegue elaborar a necessidade de se desprender da relação única com a mãe para poder passar para a relação com outras pessoas.American Society for Quality:https://asq.org/quality-resources/quality-glossary/qWEISS, L.M.L.L.PsicopedagogiaClínica:umavisãodiagnósticadosproblemasdeaprendizagemescolar. Rio de Janeiro: D.P & A. 1997.

Outro estudioso, Piaget, classifica os jogos e brinquedos, como companheiros quepassando pelas diferentes etapasdavida da criança, colaborampara o desenvolvimento do seu processo cognitivo que permite passar da acomodação à assimilação de novos conceitos e atitudes.Os diferentes tipos de jogos propostos por Piaget, que ainda se mostram tão contemporâneos, apesar do passar do tempo, podem ser utilizados como referência para as mais diferentes necessidades das pessoas que precisam de uma intervenção psicopedagógica.Os jogos de exercício ou motores, permitem ao psicopedagogo observar como é a relação corporal da criança, como ela se move, como percebe as diferenças, texturas, pesos, volumes, formas, cores. Como relaciona sabores, aromas, odores, temperaturas, enfim, como sente o mundo e se relaciona com tais estímulos.Nos jogos simbólicos, os exercícios e atividades realizados a partir das experiências anteriores, passam a ser expressos pela linguagem, são enriquecidos por ela, a ponto de recriar imitações, onde a assimilação e a acomodação são predominantes e preparam para o próximo nível, o de aceitar ou questionar diferentes pontos de vista, com os jogos de regras.Nos jogos de regras, as crianças passam por um período de transição, de maior questionamento, onde a expressão e a comunicação são mais claras e o convívio social é ampliado. Nesse período as negociações sobreseus pontos de vista e modos de ver o mundo, precisam fazer mais sentido.Nos jogos de construção, a capacidade de análise para compor um todo, unir as peças, as partes para formar um todo, inspirar-se ou copiar a realidade e transformá-la é o grande desafio. Dessa forma, Piaget subsidia a escolha dejogos, brinquedos e brincadeiras que possam contribuir para o desenvolvimentodo sujeito aprendente,mediante ao processo de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação que vão além do simples prazer da ação, que na verdade possibilitam a adaptação à realidade.Vygotsky por sua vez, considera que durante o jogo, regras de comportamento podem estar contidas dentro de situações imaginárias, quando as crianças utilizam diferentes objetos e precisam falar sobre eles e suas relações.Para ele, as ideias essenciais para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, acontecem durante a brincadeira, porque tais ideias, desprendem-se daquilo que é material e passa a ser simbolizado, pela linguagem.A ciência evolui e há necessidade de constante atualização, portanto, vale acrescentar a lista dos teóricos inspiradores Howard Gardner, que apesar de não salientar o uso dos jogos no desenvolvimento do ser humano, acredita que existem vários tipos de inteligência humana, cada uma representando diferentes formas de processamento de informações. São elas:Inteligência LinguísticaLogico MatemáticaEspacialMusicalCinestésico-CorporalNaturalista BiológicoInterpessoal IntrapessoalNão nos compete nesse artigo, descrever cada uma delas, mas simreconhecer a importância dessa proposta, por considerar que cada pessoapode desenvolver diferentes tipos de inteligência, ou seja, desenvolver habilidadespara resolver problemas ou criar produtos com significado em diferentes ambientes culturais.(Gardner 1984)Tomamos então, aqui,pelas mãos de outro importante estudioso: Huizinga, a ousadia de relacionar a teoria de Gardner ao brincar.Conforme afirma Huizinga, o jogo é um elemento da cultura, Nosso ponto de partida deve ser a concepção de um sentido lúdico de natureza quase infantil, exprimindo-se em muitas e variadas formas de jogo, algumas delas sérias e outras de caráter mais ligeiro, mas todas elas profundamente enraizadas no ritual e dotadas de uma capacidade criadora de cultura, devido ao fato de permitirem que se desenvolvesse em toda sua plenitude as necessidades humanas inatas de ritmo, harmonia mudança, alternância, contraste clímax, etc (HUIZINGA, 1980 p.84-85)Da mesma maneira que as variadas formas de jogo criam a cultura, as diferentes inteligências são aprimoradas no desempenho de atividades que são valorizadas pela sociedade, pela capacidade de criar, de resolver problemas e situações que perpassam pela fantasia, pela curiosidade, pelo ritmo, pela capacidade de organizar espaços e materiais, e de relacionar-se com os outros e consigo mesmo.Quanto aos idosos, já foram publicados artigos que propõe o uso de jogos para auxiliar nodesenvolvimento de aplicações terapêuticas para pacientes com Alzheimer, com o objetivo de tornar mais duradouro os efeitos das sessões terapêuticas e permitir uma melhor qualidade de vida do sujeito aprendente.De acordo com a taxonomia SG4D os jogos sérios podem ser categorizados como cognitivo com função preventiva, reabilitativa, educativa e avaliativa. As categorias físicas e social/emocional, também são passíveis de atuar com a função de prevenir, reabilitar, educar e avaliar(Berndt, Carvalho, e Albuquerque, (2016, p.362)Educação e escola: lugares de desenvolvimento pessoalNesse ponto é relevante falar da extrema importância da escola e da educação.O direito a educação é algo que não se pode contestar, e a importância da educação escolar inclusiva e com qualidade, cada vez mais está presente nos textos legais e no cotidiano das pessoas, apesar de ainda existirem desafios a serem superados, seja de acesso, permanência ou qualidade (BASILIO, 2009).Isto posto, acreditamos, conforme a lei, que a educação é dever da família e do Estado(BRASIL., 1996)e que a escola é uma das instituições mais importantes no início da vida de um ser humano.Na escola, são ministrados conteúdos curriculares de acordo com o desenvolvimento da criança, desde a educação infantil até o ensino médio, com conteúdo diferenciado iniciandopelo estudo da língua portuguesa, matemática, o conhecimento do mundo físico, natural e da realidade social e política, a arte e suas linguagens visuais, dança, música e teatro em suas expressões regionais, a educação física, o estudo da história das diferentesculturas e etnias indígena, africana e europeia e ainda a língua inglesa, de acordo com o documento normativo denominado BNCC –Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2019)Portanto, a missão da escola é ensinar, e espera-se que as crianças aprendam o que é ensinado e ainda que tais conhecimentos, habilidades e atitudes, contribuam para o seu desenvolvimento físico, intelectual e como cidadão, porém,algumas vezes isso não acontece de uma maneira tão corriqueira, principalmente porque a sociedade mudou, mas a escola ainda não.A verdade é: escola precisa mudar. Precisa assumir um novosignificado de acordo com os novosparadigmas éticos, de cidadania e democracia, atenta e aberta à pluralidade e à diversidade das pessoas que convivem nos espaços educativos, dirigindo o foco dos conteúdos, dos métodos e das relações humanas para a aprendizagem dos estudantes e nãoapenas para o ensino de temáticas descontextualizadas da sociedade contemporânea e de suas vidas.(ARAUJO, ET ALL, 2007,p.6)A escola é feita por diversas pessoas e que possuem diferenças sociais, econômicas, psíquicas, físicas, culturais, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero, porém, essas diferenças não podem gerar conflitos e violências físicas e simbólicas, e resultar em entraves para a inclusão educacional.O acesso à educação já foi conquistado, apesar das dificuldades, porém ainda falta muito para a conquista da qualidade para todos.Algumas das barreiras, conforme nos faz refletir MANTOAN(2003), pode ser a própria organização escolar que dificulta a articulação das disciplinas e conteúdos E a integração de saberes em redes de entendimento, segmenta a realidade, que ainda permite dividir os alunos em normais e deficientes, e os professores em especialistas em diferenças. Tal como num grande tabuleiro, é importante que a escola se reveja, para incentivar articulações, flexibilidade, interdependência entre professores, conteúdos, materiais, famílias, com o objetivo principal de desenvolver muito mais do que a inteligência de todas as crianças.Mas sim, proporcionar oportunidades de troca de experiência, descobertas, experimentações por meio de pensamentos, ações e sentimentos. Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para uma educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças. Chegamos a um impasse, como nos afirma Morin (2001), pois, para se reformar a instituição, temos de reformar as mentes, mas não se pode reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições. (MANTOAN 2003 p.13)A escola é uma instituição onde as relações pessoais são a base das relações de ensino aprendizagem entre crianças e adultos, crianças e crianças e adultos e adultos.Podem acontecer alguns problemas nessasrelações, algumas vezes esses problemas acontecem por conta dos profissionais que não possuem uma formação profissional atualizada, outras por causa do ambiente que não está muito bem organizado, não possui espaço suficiente ou materiais adequados e interessantes,ou ainda por causa do tempo disponível e necessário para que os vínculos entre adultos e crianças, ou crianças e crianças ou ainda adultos e adultos se estabeleça harmoniosamente e favoreça as trocas e as aprendizagens.Quando esses problemas acontecem, énecessário que alguém atue de maneira terapêutica. Esse profissional é o psicopedagogo, aquele que se dedica a compreender quais são os obstáculos que dificultam a relação de ensino –aprendizagem e como superá-los, como nos diz Sara Paim em diálogo com Lajonquière:O terapeuta não ensina; ao contrário, dedica-se a pensar quais são os obstáculos no aprender para assim poder dissolvê-los. Em outras palavras, deve se dedicar a devolver à criança seu anseio de saber uma vez que em algum momento o perdeu. O psicopedagogo não deve ensinar-lhe as contas, deve desvendar por que é que a criança não as aprende. Por outro lado, o educador deve ensinar, isto é, criar as condições pedagógicas para uma aprendizagem possível e não fazer terapia.(LAJONQUIÈRE, 1996, p.99)Portanto, compete ao psicopedagogo buscar contribuir para que alunos e professores, superemobstáculos reatandovínculos perdidos, entre a criança e a vontade de aprender, e desenvolver diferentes maneiras de se expressar, ouvir, criar; e em relação ao professor, auxiliar a capacidade de redescobrir sua criatividade, reassumir o compromisso dese atualizar.Buscando parceiros para realizar intervenções psicopedagógicas:Como vimos até agora, a escola precisa ser um lugar inclusivo, que desenvolva a inteligência das crianças e que contribua de forma positiva para a sociedade na qual está inserida, inclusive auxiliando na superação de desafios que existam em qualquer dos elementos a compõem, sejam humanos, físicos, materiaisou em seus processos.O psicopedagogo é um dos profissionais que contribui para que os desafios de ensino, aprendizagem e inclusão sejam superados, e, para tanto, auxilia na orientação de estudos das crianças, incentivando a organização de uma agenda paramelhor uso do tempo, nos processos de estudo, sobre como ler, escrever, preparar-se para avaliações, etc.Também pode utilizar-se de propostas culturais e artísticas para melhorar ou desenvolver a comunicação e expressão das crianças, com vistas a apropriação de conteúdos escolares ou não, e, também favorecer o desenvolvimento do raciocínio, com a utilização dejogos.Como nos diz NOGUEIRA E DANTAS A psicopedagogia pretende, em sua terapêutica, auxiliar o sujeito aprendente a desejar aprender, e compreendemos que na e pela arte esse processo pode ser estabelecido de maneira prazerosa e significativa (2018 p,71)A arte possibilita a expressão de sentimentos, emoções que ligam ao universo simbólico dos jogos e brincadeiras, que faz nacompanhia do sujeito aprendente, de seus familiares e de outros profissionais.O psicopedagogo precisa reconhecer que o seu primeiro parceiro é a sua própria disponibilidade em buscar estabelecer vínculos.Para além dos especialistas da saúde, o psicopedagogo precisa conhecer diferentes ferramentas que podem potencializar sua ação. E é aí que o jogo/brinquedo se mostram como grandes aliados.Para CREPALDIA caixa lúdica é uma das ferramentas que pode auxiliar o psicopedagogo em vários momentos da terapia psicopedagógica, desde a formação do vínculo inicial, na investigação da modalidade de aprendizagem da criança ou adolescente, e nas intervenções que podem ser realizadas em conjunto com os outros profissionais da escola ou familiares (2018, pag, 259)Para escolher os brinquedos e jogos que farão parte dela, o psicopedagogo precisa refletir sobre qual o seu conceito de criança, de sujeito aprendente, sem duvidar que todas são inteligentes, sujeito de direitos, ativas, criativas, e tem diferentes maneiras de se expressar, independentemente das queixas, síndromes, deficiências, que façam parte do seu diagnóstico.Essa certeza, já faz com que ele passe a escolher objetos e brinquedos que sejam atraentes em suas cores e formas, que possibilitem diferentes e variadas aplicações e interações, que instiguem os sentidos e a imaginação.Os brinquedos e jogos podem ser artesanais ou industrializados, sem esquecer que devem ser atraentes para mobilizar o sujeito aprendente, provocar, desafiar e agradar.Não se pode esquecer também, que todos esses brinquedos trazem elementos culturais e sociais, estão vinculados ao tempo e ao local onde foram criados. Uma boa escolha deve considerar todos esses elementos, nas suas cores, nos seus tamanhos e na qualidade dos materiais com que forem confeccionados eou construídos.Um critério para a escolha pode ser o de correlacionar as diferentes necessidades de uma criança e as várias contribuições dos brinquedos em função da idade, afinal um único brinquedo pode auxiliar no desenvolvimento de forma diferente em cada criança dependendo da idade em que é oferecido a ela (Michelet, 1980)Outro é contemplar brinquedos que proporcionam a brincadeira simbólica. São os brinquedos que reproduzem o mundo técnico e os brinquedos que desenvolvem relações afetivas.Um dado importante e até histórico, é apresentado por Kishimoto (2001) de que existem pouco brinquedos de natureza simbólica nos acervos das escolas, e que tal ausência pode inclusive inferir que a função simbólica, a criatividade e a socialização da criança são pouco relevantes nas escolas,demonstrando uma grande contradição entre as novas diretrizes e a realidade na instituição escolar.Portanto, numa caixa lúdica, não podem faltar brinquedos, objetos e materiais que possibilitem de acordo com Piaget e demais estudiosos da epistemologia, Nela precisam estar contidos objetos e materiais com qualidade e que deem suporte para experiências que permitam à criança, sujeito aprendente relacionar-se consigo mesmo e com o mundo, paraconstruire reconstruir sua individualidade, comonos propõe Melaine Klein e Winnicott que colocam o brinquedo como instrumento de unificação da personalidade da criança que auxilia no desenvolvimento harmonioso: corpo (motor e sensorial), inteligência (reflexão, aquisição), afetividade (transferência e imitação), criatividade (imaginação e iniciação artística) e sociabilidade (intercâmbios e aceitação de regras)Para além dos materiais clássicos como papel em branco e coloridos, canetas, giz de cera, lápis de cor, cola tesoura, fita adesiva, que podem dar suporte a expressão escrita e gráfica, o mundo pode caber nesse pequeno espaço.Do ponto de vista dos materiais utilizados, todos devem atender as normas de segurança estabelecidas pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), órgão que é responsável por verificar e estabelecer e as normas técnicas desegurança de brinquedosproduzidos no Brasil.Cuidados imprescindíveis são a leitura do rótulo, em que estão descritos a identificação do fabricante ou importador, com os respectivos endereços e possíveis advertências sobre a indicação da faixa etária, informação que pode ser relativizada dependendo das características do sujeito aprendente que o manuseará.A aquisição de brinquedos com o selo do INMETRO, dá segurança ao profissional quanto a origem do brinquedo, e em relação a existência de substâncias reconhecidas como perigosas à saúde, à possibilidade de dano no brinquedo em virtude de queda ou arremesso, como a liberação de pequenos fragmentos, pontas agudas etc.É muito importante que ao escolher um brinquedo, o psicopedagogo verifique se existem possibilidades de risco de que o brinquedo possa causar risco ou dano aquele que o manipular, como pinos, grampos, arames, pregos mal fixados, cordas e elásticos que possam enroscar ou causar enforcamento, ou sufocamento, ou que possam soltar pedaços que podem ser engolidos.Não se recomenda a escolha de brinquedos confeccionados com EVA, a não ser que tal material seja utilizado nas intervenções artísticas ou de artesanato, mas não com a função de brinquedo, dada a sua precariedade, praticamente sendo descartável.Também não se recomenda a presença de brinquedos com ruído excessivo, com formas e cheiros de alimentos, que podem induzir a colocação na boca, materiais com fácil combustão, com pilhas, e que possam ocasionar choque elétrico.Evite comprar brinquedos que agrade a você, ou aqueles em que a criança é transformada em expectador, sem participação ou ainda que se mostrem com regras e mecânica com difícil compreensão inicial.Brinquedos muito frágeis ou com mecanismos que não funcionam apropriadamente, em geral, provocam grande desinteresse e frustração nas crianças. Trazem também, muito trabalho para a equipe com a sua manutenção, além dos gastos com reposições.Durabilidade e resistência, embora não sendo os únicos atributos que conferem qualidade a um brinquedo, são bem significativos, e sem dúvida, influenciarão muito nas decisões finais de aquisição (Aflalo apud Friedman, 1992, p.226-227)Os brinquedos precisam ser higienizados com frequência, após seu uso, esse é outro motivo para a escolha de brinquedos resistentes.A indústria nacional já dispõe de materiais denominados BUC –Brinquedos de Uso Coletivo, com durabilidade superior, e embalagens mais econômicas.O Comitê Brasileiro de Segurança em Brinquedos tem trabalhado há mais de 2 anos no desenvolvendo uma Norma ABNT para Brinquedos de Uso Coletivo que visa estabelecer requisitos mínimos de resistência e durabilidade para brinquedos que estimulam a brincadeira simbólica. Esses brinquedos estão sendo submetidos a testes de resistência muito mais severos aos que o INMETRO exige para brinquedos que são destinados ao varejo tradicional.Revise periodicamente os brinquedos, evitando guardar brinquedos quebrados ou com peças faltantes, cuide das embalagens, reforce-as aplicando uma camada de cola branca, verifique se as costuras, laços e enfeites de bonecas estão firmes.Éimportante pensar nas crianças para adquirir brinquedos e jogos, pensar em quais são as intenções, visite lojas e sites de fabricantes, compare preços e materiais, troque experiências, teste, receba doações, pergunte as crianças. Quanto mais participativo for o processo da escolha, melhor e maior sucesso será o momento da intervenção lúdica.Uma boa caixa lúdica também deve ter brinquedos eletrônicos, e aplicativos. Vídeogames, realidade virtual, entre outros, tem ganhado a simpatia e adesão de todas as crianças, então não podemos nos esquecer deles.São muitas as possibilidades de utilização de jogos/brinquedos para o psicopedagogo, e de acordo com BOSSA,Essa opção implica determinado procedimento prático, no qual o trabalhopsicopedagógico consistiria em propor à criança a realização de determinadas tarefas e acompanhá-la na sua execução. O foco de atenção do psicopedagogo, porém, éa reação da criança diante da tarefa, considerando resistências, bloqueios, lapsos, hesitações, repetições, sentimentos e angústias frente a certas situações. Além deoutros procedimentos, o psicopedagogo faz as intervenções, que visam permitir àcriança entrar em contato com o sentido inconsciente das suas dificuldades.(p. 30, 2019)ParaWeiss (1997)uma intervenção lúdica podeser dividida em três momentos: o enquadramento, a observação e a avaliação. Cabe ao psicopedagogo, observar o modo de brincar,do sujeito aprendente, como ele faz suas escolhas, a maneira como organiza a brincadeira, se faz muitas perguntas, se é criativo, seus comentários sobre os brinquedos, se faz comparações, se repete situações convencionais, se se concentra com facilidade, socializa, resolve situações problema, se representa papeis, se nomeia outros personagens, como serelaciona com o próprio corpo e realiza movimentosÉ importante, nesse momento, não emitir juízos de valor, mas observar como se dá a relação com o objeto/material.Nãose pode esquecer das questões sociais e culturais. As crianças são exigentes e críticas, demonstramseu desapontamento, pode não se interessar pelos brinquedos oferecidos, ou pode envolver-se completamente com um objeto simplesÉ essa relação que pode demonstrar como ela construiu seus esquemas internos de aprendizagem e de que maneira podesuperar seus obstáculos para aprender a aprender e sentir-se motivado.Na relação com a caixa lúdica e seu conteúdo auxilia o psicopedagogo no processo do diagnóstico e na construção de alternativas, porque enquanto a criança está brincando, ela está expressando a sua realidade interior, seu inconsciente.Quando a criança tem à disposição materiais com qualidade, ela se encanta, se desafia, percebe que as escolhas foram feitas com critério e se sente importante, ela percebe o cuidado e pode imitar esse deferimento.Brincar e a qualidadeO Brincar para quem brinca é um momento sublime, de cura interior, de descobrir possibilidades, criar e recriar.Quando o aprendente, seja criança, adulto ou idoso, tem tempo, espaço e acesso à materiais com qualidade, esse momento se expande para a vida, para sua qualidade de vida.Fica o convite para usufruir desse maravilhoso mundo do jogo, brinquedo e brincadeira!REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICASAraújo Ulisses F. [et al.]. Programa Ética e Cidadania: construindo valores na escola e na sociedade: inclusão e exclusão social/organização FAFE –Fundação de Apoio à Faculdade de Educação (USP), Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica–Brasília: 2007. 4 v.Basilio, Dione R.Direito àeducação: um direito essencial ao exercício da cidadania. Sua proteção à luz da teoria dos direitos fundamentais e da Constituição Federal brasileira de 1988 Faculdade de Direito disponível em:https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2140/tde-02122009-152046/pt-br.phpacesso em 09 de março de 2020CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htmacesso em 09 de março de 2020Bossa, N. A psicopedagogia no Brasil WAK, Rio de Janeiro, 2019, 5ª ed.Berndt, Carvalho, e Albuquerque, (2016, p.362) CLASSIFICAÇÃO PARA APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS GAMIFICADAS PARA PACIENTES COM ALZHEIMERXV Congresso Brasileiro de Informática em Saúde 27 a 30 de novembro -Goiânia –Brasil disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/07/906290/anais_cbis_2016_artigos_completos-361-371.pdfacesso em 11 de março de 2020BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 22 de março de 2020._______. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htmacesso em 17 de março de 2020______. Estatuto do idoso: lei federal nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htmacesso em 17 de março de 2020CREPALDI Roselene , Brinquedos, jogos e brincadeiras na Psicopedagogia in: DANTAS, Marcia A. S.; CASTANHO, Marisa I.S. Práticas de psicopedagogia em diferentescom (Textos) Rio de Janeiro: Wak Editora, 2018AFLALO C. Escolhendo brinquedos e materiais, in FRIEDMANN, A. (org)O direito de brincar. 4º ed. São Paulo: Edições Sociais: Abrinq, 1998GARDNER, Howard. Estruturasdamente.ATeoriadasInteligênciasMúltiplas.PortoAlegre.ArtesMédicas,1994.HUIZINGA, J. Homo Luddens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 1980.Kishimoto Tizuko M. MadeiraÂngela R. Produção e uso de brinquedos: Cocriação entre universidades, fabricantes de brinquedos e Ministério da Educação no Brasil., 2014 disponivel em: http://www.abrinquedoteca.com.br/pdf/34ent.pdfacesso em 20 de março de 2020Kishimoto Tizuko M BRINQUEDOS E MATERIAIS PEDAGOGICOS NAS ESCOLAS INFANTIS /, Universidade de São Paulo, 2001 disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022001000200003, acesso em 09 de março de 2020LAJONQUIERE, Leandro de. Conversando com sara pain.Estilos clin.,São Paulo,v. 1,n. 1,p. 94-105,1996. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71281996000100009&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 01 mar. 2020.MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. p. 13-20 e 27-34.MICHELET À chaque jouet ses âges. À chaque âge ses jouets.” (1980) publicada pelo Centre National D’Information Du Jouet (França, 1980)MRECH, Leny Magalhães. 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Para a Organização Mundial da Saúde-OMS, “Qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.Isso quer dizer quea qualidade está relacionada com a percepção de quem está usufruindo do nosso trabalho, e não só com o que oferecemosao sujeito aprendente. Estudos recentes como os desenvolvidos por Stuart Brown da Play Core, demonstram que:Nada ilumina o cérebro tanto quanto brincar. Brincadeiras tridimensionais ativam o cerebelo, mandam vários impulsos para o lobo frontal —a parte executiva do cérebro —, ajudam o desenvolvimento da memória contextual, entre outros benefícios”,(2020)

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